Nobres, castas em plena democracia
Há uma casta no país,
e ela é a classe política. Isto é inegável.
Nas sociedades feudais
do mundo medieval europeu as castas eram uma condição determinada por uma compreensão
divina da ordem social. Fundada em relações de obrigações recíprocas entre
dominantes e dominados. Ela definia a existência do nobre e da plebe. A casta
dominante, a nobreza, herdava as terras, se estabelecia sobre um código de
honra que lhe impunha uma ética. Poderia não ser obedecida por alguns, mas
justificava e dava sentido a função de muitos dos chamados “senhores feudais”. Os
senhores de terra tinha na tradição uma das lógicas de sustentação do seu poder
hereditário.
Em plena democracia
nós também temos os nossos “nobres”. Nossas castas que se estabelecem “eternas”,
como as hereditárias da nobreza tradicional do medievalismo europeu. Também, em
alguns casos, são senhores de terra e tem seu quinhão de servos. O sentimento
de serem inabalados como os nobres tradicionais é idêntico. Como se nada
pudesse tirá-los do privilégio que consideram de direito eterno. Estes
senhorios não cumprem a função econômica que o mundo feudal exigia de sua
nobreza, fundamental para a manutenção da ordem. Nossa nobreza se mantém pelo
custo da máquina pública que lhe permitiu transformar o patrimônio de todos em
uma extensão do seu bem pessoal.

Mas é o valor da casta
a que quero me referir, o quanto nos custa a manutenção de muitos que
transformam a vida pública em profissão de excelente remuneração. Segundo
reportagem da Folha de São Paulo, o gasto anual com o parlamento federal é de
R$ 4,36 milhões por ano. O segundo maior entre 110 países. Só perdemos para os Estados
Unidos. Partes consideráveis destes recursos vão além do salário mensal,
correspondendo a ajudas de custo, funcionários de gabinete e décimo quarto e
décimo quinto salários.
Vale lembrar que não
estamos em uma sociedade de castas justificada pelo poder divino, com um
estatuto feudal sobre a propriedade que garante aos eleitos por “Deus” o
direito de governar nossas vidas. Esta sociedade é democrática, é livre e deve
ser representativa. A manutenção dos privilégios em nossa sociedade, o preço imenso
que pagamos para manutenção da máquina pública pode ser rompido. A cidadania
deve ter consciência da ação coletiva e do problema comum que afeta a todos
nós. A governança deve ser o resultado das forças políticas que a cidadania tem
um papel central. Ela não pode ser o direito de uns sobre todos, mas a vontade
da maioria em um diálogo constante com toda a sociedade.
Comentários
Postar um comentário