Passivo Social II
Ao longo da história construímos um passivo social que se mantém o nosso principal dilema. A solução está em romper com a ignorância que o a política econômica não quis ou não se propôs a superar.
A herança do que a escravidão gerou não é uma questão racial,
mas econômica e social. Vai além da questão de uma nação escravizada, é o país
escravizado. Geramos, ao longo do tempo, uma visão sobre o trabalho, seu
significado, seu sentido. E a impregnação de sentido que a escravidão deixou
não foi boa. O trabalho não significou dignidade com o tempo, mas uma expressão
da miséria.
Durante as décadas que sucederam a abolição, a partir de 1888,
o grande número de pessoas liberadas da condição servil ficou disponível para
trabalhos braçais de baixa complexidade. Uma mão-de-obra barata que seria
tratada livre da mesma forma de quando era escrava. Mesmo as gerações futuras destes
trabalhadores sentiriam no trato o que foi a escravidão.
Porém, a produção agrícola fundada no trabalhador braçal, no
colono, daquele que morava na propriedade rural, garantiu a sobrevivência das
economias agrárias de maior importância no país. Esta condição foi resultado de
não serem qualificados, de não se ter uma política de incentivo a propriedade ou
a desqualificação do passivo social. Lembrando que trabalhos com ganhos baixos.
Foi com a urbanização do país que se teve a dimensão do que
representa a contradição e o contraste social fundado desde de sua formação. O
crescimento das cidades brasileiras, lembrando que o país tem hoje mais de 85%
de sua população nos espaços urbanos, foi marcado pela desigualdade. O trabalhador
necessário para construir e servir a uma população qualificada que predominou
economicamente nas cidades brasileiras.
O momento deste deslocamento populacional do campo para a
cidade, o que chamamos de êxodo rural, foram as décadas de 1950 a 1970. Foi neste
ambiente que muitos buscaram a cidade como refúgio. Mas também se transformou
no campo do conflito e de marginalidade. De cortiços a favelas, o passivo
social se concentra e reage a miséria. Mas não de forma política e ideológica,
apenas na luta pela sobrevivência.
Hoje, parte considerável dos problemas que temos no ambiente
urbano foi construído sobre este campo social fértil. Há uma grande quantidade
de brasileiros que estão dispostos a serem explorados ou servirem aos
propósitos da violência crescente nas cidades.
O crime organizado, violência, tráfico e todos as mazelas
urbanas se alimentam desta herança do passivo social.
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