Trânsito: um meio e não um fim
A vida não vale tão pouco. Mas no lugar transitório ela parece ser colocada em risco e acaba em deslocamento sem chegar ao seu destino. Temos que civilizar o lugar onde os encontros são tensos, o trânsito.
Estamos na Semana Nacional do Trânsito. O que deveria ser um
meio, para muitos se torna um fim em si mesmo. Não há lugar onde a relação com
os outros é tão tensa e intensa quanto o trânsito. Muitos envolvidos, nem todos
dispostos a entender que não estão sozinhos.
Mas de onde vem tamanho ódio. Do instinto. Da perda da
civilidade e da possibilidade de descarregar no meio os ódios sem fim da vida
recheada de frustrações e tensões. A cidade aglutina a particularidade. Uma
grande parte dos que convivem no trânsito estão em busca de realizar seus
interesses e a qualquer momento alguém pode se transformar em seu inimigo. O
trânsito é a descarga da neurose coletiva expressa em cada um.
O trânsito é visto como um ambiente tenso e intenso. O que é um encontro temporário se transforma no ambiente de disputas definitivas.
Nosso culto ao automóvel e a motocicleta não ajuda. O meio
de transporte é produto desejado que envolve o ser humano e lhe dá sua medida. O
carro se expressa como parte da dignidade e da permissividade. As propagandas
cada vez mais destituem o carro da convivência com os demais veículos e outros
modais e lhe dá o sentido de ser único. Não incomum, a propaganda com carros
solitários em vias livres para seu glamour e excessos. A verdade não é essa,
mas a realidade não vende e sonhos sim.
Trânsito é um meio que acaba se tornando um fim.
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